No jardim que nunca foi meu,
andei sem pressa, sem direção,
provei promessas em frutos amargos,
mas só colhi ecos de ilusão.
Se há trevas em mim, que se rasguem,
que Deus me cure das feridas na carne.
Te abracei no fogo, te perdi na neblina,
no óleo dourado que escorre e desliza.
Mesmo sabendo que a noite caía,
ainda sonhei que tudo mudaria.
Mas se a chuva cair, será que voltas?
Ou és só memória que o vento dispersa?
Escorres dos dedos, somes sem aviso,
feito azeite e nuvens num tempo indeciso.
Vi teu nome entalhado na pedra,
num templo ruído, sem devoção.
Ergui tua ausência em preces vazias,
mas todo sacrifício carrega maldição.
Tentei, mas a que preço?
Olhar teus olhos a sangrar,
e perceber que amar, às vezes,
é ferir sem nem notar.
Se o paraíso foi só miragem,
se o inferno me fez refém,
onde termina a paisagem,
onde começa o além?
Se a chuva cair, será que voltas?
Ou és só memória que o vento dispersa?
Se a chama apagar, se o tempo ruir,
no escuro, ainda vais me ouvir?
Na catedral deserta dos meus pensamentos,
teu nome ecoa como um antigo sacramento.
Foi lá que aprendi — entre cinzas e lamentos —
que amar é despedaçar em silêncio, por dentro.
Tuas palavras, vestidas de calma,
vieram suaves, mas abriram meu peito.
Não houve rancor, só um corte na alma,
e seu amor se calou, já sem jeito.
Diziam: “esqueça, há vida além dela.”
Mas a ausência queima, um fogo que não finda.
É um quarto sem porta, sem janela,
uma lembrança que nunca foi redimida.
Te vi escapar por frestas do real,
como uma sombra quebrada num sonho sem fim.
E no espelho, distorcido e mortal,
me vejo sumir — e ela, em mim.